Jerusalem Jones - Pata de Macaco



"Aqui Jaz Jerusalem Jones. Vencido pelos seus inimigos"

A lápide estava gelada e a terra sobre o que seria o caixão de J.J. estava seca, dura. Porém, foi possível se escutar um barulho abafado: BAMF! - que parecia vir de dentro daquela terra. Foi quando parou de repente. Um punho atravessou a terra. Sangrando, ferido, em carne viva. Como se fosse areia movediça, a terra escoou para dentro do buraco e uma figura disforme saiu se arrastando da tumba. 

- Eu... vou matar... quem fez isso! - disse, com uma voz pastosa, aquilo que parecia ser o pistoleiro Jerusalem Jones em mais um dia normal em sua pacata vida. 

J. J. estava à caça de um criminoso, como se ele mesmo também não fosse um, quando necessário. A recompensa era gorda e J. J. estava magro. Precisava urgentemente de grana e de motivação alimentícia para continua vivendo. Em outros tempos ele poderia ter sido parceiro de Sam Enforcado - que apelido maldito -, mas, na atual situação, eles eram apenas caçador e caça. Foi quando algo estranho aconteceu. 

- Ele não morre, seu estúpido - disse uma voz ao longe, que parecia vir de outro lugar, de outro mundo. J. J. estava quase inconsciente depois da pancada que recebeu na cabeça, caindo de seu cavalo Jimmy. J. J. nem mesmo sabia que não morria, mas, se estavam dizendo isso, era sinal de que  não tencionavam matá-lo. 

- Vamos enterrá-lo vivo e ir embora, Sam, meu filho. 

O que diabos um facínora estava fazendo por aí andando com a mãe? J. J. pensava nisso enquanto sentia que estava sendo arrastado pelas pernas. "Jogue-o no caixão, filho. Tudo saiu como planejado. Esse bastardo vai pagar pela morte de seu pai". Que pai? Que morte? Não que ele não pudesse ser culpado, mas não estava gostando de ser enterrado vivo pela morte de alguém que não sabia quem era. 

- Mãe! Essa lápide me custou os olhos da cara! Você tá levando essa coisa de vingança longe demais, mãe. O pai nem era tão legal assim contigo. Ele batia na senhora!!!

- Não se trata disso! Se trata de honra e justiça. Mas, já tentei matar esse verme outras vezes, e não funcionou. Enterrá-lo vivo é a única maneira. 

Bom, Jones ficava aliviado com isso. A chance de escapar era muito boa...

- Abra a tampa do caixão de concreto.  - Agora caiu drasticamente. 

Quando saiu de seu tumulo de concreto, J. J. só tentava entender porque alguém se daria a tanto trabalho pra vingar um marido violento e, provavelmente beberrão. Todo mundo que ele conhecia era beberrão. Ele era beberrão. E como assim "eu já tentei matar ele outras vezes?". Haviam mais perguntas e as respostas só traziam outras perguntas. Sam Enforcado, de quem você era filho? 

As coisas saíram do controle entre ele e John Coverige. O velho estava tentado levar vantagem na divisão do roubo. havia sido um golpe de sorte e os dois conseguiram tudo o que planejaram no assalto à diligência do Estado. Quase morreram, mas conseguiram. Mas, John achava que merecia mais. Dizia que, tendo um filho e uma esposa, precisa de uma parte maior. Além disso, o plano fora seu. Sam já era um rapaz, mas não era muito esperto. A mãe era uma bruxa, mas era quem cuidava do garoto. Ele devia isso aos dois. J. J. não queria discutir. Pegou sua parte e se levantou para ir embora. John atirou pelas costas. Jones caiu. Quando John o virou para pegar o dinheiro, só sentiu algo quente deixando seu pescoço. Sangue. Sangue de uma mordida. Foi tudo tão rápido. 

- Esse monstro não vai voltar - disse, Mary Kae. 
- Não seria mais fácil cortar a cabeça dele, mãe? 
- Não seja idiota! Somos cidadãos de bem! Não cortamos as cabeças das pessoas. Joga a areia e vamos embora. A cruz invertida sobre o caixão vai impedir que ele saia... além do caixão ser de concreto, é claro. 
- Mãe, não gosto quando você mexe com essas coisas. 

"A mãe era uma bruxa". Droga, tinha que ser literal? 

Recapitulando agora, o desespero de acordar dentro de um caixão de concreto parecia algo distante. Olhando Jimmy que, estranhamente ficou por perto, tudo parecia até normal, para J. J. 

- O que é isso? - perguntou J. J. ao homem que vendia um elixir milagroso, que J.J. sabia, a única coisa que causava, era caganeira. 
- Um amuleto da sorte. Mas eu vendo se quiser. Acho que já gastei toda sorte que ele podia me dar, não estou conseguindo vender nada por estas bandas. 
- Como, em nome de Deus, um troço desses vai dar sorte a alguém? 
- Compre e saiba. 
- To sem dinheiro.
- Depois me pague. 
- Que confiança! 
- Sim, eu sei quando confiar. 

J. J. se limpou de toda aquela sujeira, viu um rio próximo e se limpou como pôde do sangue. Pegou o estranho objeto que "comprara" do mascate, totalmente destruído, depois de, por pura falta do que fazer e por desespero, ficar batendo com ele na tampa de concreto, até que ela rachou completamente. Explicações/ Não há. Era só uma porcaria de pata de macaco ressecada. Agora ele precisava de dinheiro para comer e para pagar ao mascate. Não queria saber de bruxa, nem de seu filho, nem de vinganças. Ele queria era um prato quente, não frio. Montou em Jimmy e foi embora.

- O que houve com o macaco? Porque ele está sem uma pata? 
- Um acidente. 
- Você....você não fez o que estou pensando? Você não fez isso, não é? Esse macaco não é um macaco comum, seu imbecil. Ele está... ele foi... há algo nele, que estamos transportando, ELE É UM MALDITO RECEPTÁCULO, SEU IMBECIL! 

O lugar explodiu em sangue. Os dois homens e o macaco estavam mortos. A pata estava muito longe naquele momento. Anos depois estaria enterrada em um caixão de concreto. E explodiria também. 


Comentários

  1. Muito bom, Eudes. Já pensou em compilar esses contos (se é que já não fez isso)?

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    1. Vc é tão novo assim no blog? Foi publicado um compilado dos contos. Um amigo que fazia faculdade de editoração usou os contos e publicou como parte do seu TCC.

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    2. Realmente eu não sabia desse TCC. Só me lembrava dos contos publicados no primeiro RA. Mas, respondendo, acho que comecei a frequentar o RA a par tir de 2016, se não me engano. E o Onomatopéia, coisa de um ano antes disso. Aliás, foi por meio do OD que cheguei ao RA.

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  2. Salve Eudes!
    Cara, vc pretende manter mais os textos como prosa mesmo, ou pensa em colocá-los como hq? Imagino que não deve ser barato, mas já conversou com algum ilustrador?

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    1. É muito caro. Pelo menos é muito caro se vc quer que saia bem feito. Quer dizer, é o preço justo, eu é que nao tenho grana e pra fazer algo meia-boca, melhor nem tentar.

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  3. Parabéns Eudes!! Gostei do seu conto..

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