RAPADURA AÇUCARA: 19 ANOS DE AÇÃO E AVENTURA

CAPÍTULO I - A GANGUE DO UOL.CINEMA

Era uma tarde de quinta-feira, do dia 21 de novembro de 2002. Não existiam as redes sociais como as conhecemos hoje. Eram os bate-papos do UOL, mIRC, um ICQ que já se despedia e um MSN que despontava como o novo queridinho dos internautas. Porém, eu não estava em nenhum desses. Eu me comunicava pelo velho Outlook via e-mails no que se chamava UOL. Cinema, que era um de vários grupos divididos por assunto que o site disponibilizava. Ali falava-se de praticamente tudo, menos de cinema. Quer dizer, falávamos bem pouco de cinema. O grupo estava dominado por uma gangue de vândalos à qual eu me uni. Foram eles que ajudaram a criar o Rapadura Açucarada e tudo que ele viria a se tornar. 

Para se ter uma ideia de como o grupo era ativo, foi lá que muita gente levou spoiler sobre Sexto Sentido e todos queriam ver gente morta por causa disso. Eu não tive esse problema pois cheguei depois. Mas, eu estava lá quando a primeira Torre Gêmea caiu, alguém comentou, e eu corri para a TV apenas para ver a segunda torre ser atingida. 

Infelizmente não vou me lembrar dos nicknames que abarrotavam aquele canal onde foram-se criados laços de amizades que ecoam até hoje. E, sim, foi lá que nasceu o Rapadura Açucarada. 

CAPÍTULO II - O QUE É SCANNER? O QUE É BLOG?

Havia pelo menos dois anos que tínhamos um scanner que foi comprado devido ao bom e velho consumismo. Nunca usamos, nem eu, nem Lia. Ele ficava parado lá, pegando poeira. Era uma parte da mobília, um enfeite. 

Nesta época também estavam em alta os blogs e todo mundo ou teve, tinha ou teria um, ou mais de um. Eu mesmo cheguei a participar do blog de um dos membros do UOL.Cinema, mas por pouco tempo. Eu não sabia bem o que fazer. Ficava apenas colocando imagens de quadrinhos e etc. Também cheguei a criar um ou dois, tão irrelevantes que nem o nome eu consigo lembrar. Blogs nasciam e morriam mais rápido que moscas. 

Depois do scanner e dos blogs, o terceiro personagem de nossa história são os quadrinhos digitais que também despontavam nesta mesma época. Eram os - até então desconhecidos para mim - scans. 

Perambulando pela internet acabei caindo numa caverna, muito iluminada e nada amedrontadora: era a Toca do Carcaju. 

CAPÍTULO III - MARAVILHAS E OUTROS REINOS

Eu abri os olhos e me espantei ao ver várias revistas em quadrinhos que eu havia perdido ao longo do tempo, devido ao período que passei como Testemunha de Jeová (1990-1997) e li muito pouco de quadrinhos. Havia Marvels, O Reino do Amanhã,. e tantas outras que no momento não lembro. Eram disponibilizadas página por página e, como era a primeira vez que eu me defrontava com tal preciosidade, achei perfeitamente normal. Porém, alegria de pobre dura pouco. 

Algumas semanas - talvez dias - depois, o dono do site (não era um blog) deletava o conteúdo e deixava uma nota explicando que não iria mais continuar o trabalho pois fora notificado pela Editora Abril e instado a parar com as atividades que envolviam suas publicações. Como eram todas da editora, o jeito foi parar. Porém, meses mais tarde, a reviravolta se deu e quem perdeu os direitos sobre os super-heróis DC e Marvel foi a Abril, que viria a deixar de publicar quadrinhos de forma permanente. 

CAPÍTULO IV - UM BLOG DESTILADO DA CANA DE AÇUCAR

Chegou o dia fatídico: eu queria começar um blog a sério. Para isso eu precisaria de um nome bacana. Eu reparava no humor dos nomes de muitos sites e blogs da época, como por exemplo, Dedada Digital, Passeata Solitária, Cocada Boa e outros. Muitos eram pleonasmos e eu queria que o meu fosse assim. Aliás, eu esqueci de dizer que, na época, seria o blog do Outsider Z ( que eu pronunciava como autisaider Zê), meu nickname. 

Pensei por um tempo e acabei chegando a Rapadura Açucarada e não alterei mais nada. Abri o blog no portal TERRA, que tinha lá seu weblogger.com. Foi um início bem tímido, sem saber muito para onde iria, mas que me animava, já que o pessoal do UOL.Cinema visitava e me dava ânimo. Ainda assim, como os outros que fiz, parecia sem propósito. Eram algumas piadas, imagens e nada que o fizesse se destacar. Eu nem pensava em scans e o Toca do Carcaju era apenas na lembrança, eu não pensava mais em baixar quadrinhos. Não procurei em outros lugares. Foi quando eu li um quadrinho de uma editora pequena, a Pandora, que publicava personagens que as editoras grandes não queriam, entre eles, Deadpool. 

CAPÍTULO V - UM MERCENÁRIO BOCUDO DÁ INÍCIO A TUDO

A história já é famosa... aqui, pelo menos: eu comprei uma HQ que nem era costume meu comprar. Acho que a capa emulando a capa clássica do Homem-Aranha, com o Deadpool carregando uma pessoa, me fez querer saber mais. A principio não gostei. O traço era feio no começo, até o momento em que Deadpool viaja no tempo e vai para o passado do Homem-Aranha... em 1967! Não apenas um passado no sentido de tempo, mas gráfico também. A história passava a ter o estilo de John Romita Pai, incluindo o próprio Deadpool.. Era uma história que viria a ser reproduzida na HQ Antologia Deadpool e a história que Deadpool "invade" é republicada em Homem-Aranha Edição Definitiva - Volume 3. 

Bom, animado que fiquei ao ler aquilo, fui comentar com os amigos do UOL. Cinema. Foi quando Fábio Negro, um dos integrantes respondeu da seguinte Forma: 

"Pô, manda uma página aí pra gente ver". E eu perguntei: 

"Como diabos vou fazer isso?". - E Fábio respondeu:

"Escaneia, oras!"

Naquele momento escutei um coro celestial, uma faixa de luz caiu sobre o scanner, eu olhei para ele, ele olhou para mim, e eu pensei: "bom, não custa nada tentar".

CAPÍTULO VI - CAMELOT 3000, PHOTOSHOP E OUTRAS LOUCURAS

Já era janeiro de 2003 quando eu digitalizei a minha primeira página de quadrinhos e enviei para o amigo que pediu. Como se uma aranha radioativa me mordesse parecia que havia ganhado superpoderes, e eu percebi que aquilo não era tão difícil quanto parecia. E, com a Editora Abril fora do caminho eu percebi que talvez pudesse continuar o legado da Toca do Carcaju. 

Assim resolvi tentar e um dos primeiros gibis a serem digitalizados foi Camelot 3000, a edição em três volumes da Editora Abril. Assim que terminei, percebi que teria de aprender a usar outra coisa que eu nunca havia usado na vida, e não, não era meu cérebro, era o Photoshop!

Aquilo para mim era tão estranho quando uma partícula quântica de prótons negativos energizados por raios gama. Mas, eu estava na chuva, e o jeito era se molhar. 

Novamente tive ajuda da galera do UOL.Cinema que me dava dicas de como usar o Photoshop e, a cada nova descoberta, eu me aprimorava mais os scans. Até hoje aprendo coisas novas, seja por acidente, seja por alguma dica de amigos que surgiram durante esses 19 anos. 

Uma curiosidade: apenas recentemente adquiri um Photoshop mais atualizado. Até então eu usava o mesmo desde 2003.

CAPÍTULO VII - CORRA QUE OS SCAN VÊM AÍ!

Para compartilhar os scans eu tinha que colocá-los em algum lugar e foi assim que descobri o kit.net.com.br, que fazia parte do portal da Globo. Assim como o Carcaju, eu colocava página por página, até o momento que alguém me apresentou o WinRar e as coisas ficaram mais rápidas. Aliás, as coisas começaram a ficar velozes e um boom de scans começou a ser enviado para o blog, fosse pelo pessoal do UOL.Cinema, fosse por gente que descobriu o blog de outro modo. 

uma frenesi parecia ter se apossado de quem visitava o blog e muita gente, mas muita gente mesmo, estava disposta a ajudar. Foi uma época que eu costumo chamar de Era de Ouro dos scans. Mas, ainda teríamos mais acontecimentos pela frente.

CAPÍTULO VIII - É UM MUNDO ESTRANHO, VAMOS MANTÊ-LO ASSIM

Novamente a Editora Pandora fez com que eu tomasse uma nova inciativa: traduzir scans de quadrinhos que não sairiam aqui. Isso já era feito na Internet, mas eu não sabia, não conhecia nenhum site ou blog que fizesse isso. 

Quando a Pandora cancelou Planetary e The Authority depois de três números lançados, eu queria mais. E só havia um jeito, traduzir e diagramar os scans em inglês. Novamente o pessoal do UOL.Cinema veio em minha ajuda. Primeiro conseguindo os scans, depois traduzindo os textos que eu revisava e letreirava. E, novamente isso fez com que outras pessoas quisessem fazer o mesmo. Alguns enviavam pro RA e outros começaram seus próprios blogs, como o Immmateria, por exemplo. Foi um tempo incrível.

CAPÍTULO IX - DEZENOVE ANOS DEPOIS

E não caberia aqui contar tudo que aconteceu desde então. O blog se tornou de scans, mas eu nunca quis que ele fosse monotemático. E, com o tempo, vieram poesias (sim, já teve mesmo), textos, contos, memórias, scans, mais scans e depois mais scans, além de filmes e sabe-se lá mais o que. 

O blog gerou um fórum - o saudoso F.A.R.R.A. -, gerou outros blogs, eu particei de portais de entretenimento, o RA saiu em jornais, apareceu em TCCs, podcasts e etc. Tive problemas com fanáticos políticos e o blog deu uma freada, mas não acabou. Rapadura Açucarada tinha se tornado uma ideia e ideias não morrem. 

Não é mais sobre um blog, é sobre algo que até hoje reúne pessoas, seja em algum lugar da internet... e até fora dela. 

Pude fazer aquilo que realmente gosto: compartilhar, pois para mim, compartilhar É TUDO.