Remake Memories: A Única Banca de Jornal

 

Antes dos 12 anos eu não ia em banca de jornal. Eu conseguiia gibis quando minha mãe comprava - o que era bem poucas vezes - ou quando meus tios e tias me davam. A banca mais próxima era na padaria, no fim da rua. Porém, essa banca era apenas para vender jornais. Eu ainda não sabia, mas ela era uma das muitas filiais da banca principal deste texto, que ficava bem mais distante, para uma criança. Mas, aos 12 anos eu fui trabalhar no bairro em que ela ficava, e tudo mudou. 

Fui trabalhar na padaria que cito no texto Como Fui Parar em Uma Seita - Capítulo Um. Então eu agora tinha o dinheiro e a oportunidade para comprar os quadrinhos que eu queria. E foram muitos. 

Esta banca de jornal a que me refiro ficava neste bairro chamado Lote XV, e ela abria bem cedo, lá pelas cinco da manhã. Por coincidência era este o horário que eu tinha que chegar para trabalhar, então que fazia eu? Antes de ir para a padaria, passava na banca que, muitas vezes nem estava aberta ainda, e era o primeiro dos primeiros. 

Com o passar do tempo eu fui ficando acostumado c om esse trajeto e com os donos da banca, que eram três irmãos, dois que ficavam na parte da manhã e um que ficava à tarde. Eu logo me tornei "da casa", comprando até mesmo fiado. 

Numa época em que os quadrinhos de super-heróis da Editora Abril estavam bombando, era novidade quase todos os dias. Por fim, quando eu não tinha mais paciência para esperar eles abrirem o pacote com as publicações, eu mesmo entrava na Kombi pegava o pacote, abria e tirava meus preciosos gibis. E ninguém dava a mínima Era como se eu nem estivesse ali. Eu já fazia parte da paisagem. 

Foram três anos direto assim, ou seja, o tempo que trabalhei naquele bairro. Quando saí do trabalho, minhas idas por lá foram diminuindo e o tempo foi fazendo seu trabalho com tudo aquilo se desvanecendo. A banca foi deixando de ser aquela que era, e os irmãos foram parando aos poucos de abastecer como antes. 

Hoje em dia, por incrível que pareça, ela ainda está lá, no mesmo lugar, com apenas um dos irmãos - o que ficava a tarde - gerenciando o negócio. Mas, é uma pálida sombra do que já foi. Depois de muito anos passei por lá e até demorei a entender que era a mesma banca. Tinha apenas jornais e esses bilhetes de premiações. Não vi o dono por perto. Também não sei o que os outos dois fazem hoje em dia. 

Mas, ela estar lá é como se um pedaço da minha vida ainda se mantivesse de pé, juntamente com o parque de diversões que fica quase ao lado, e que também fez parte da minha infância. Tenho boas lembranças desse tempo e isso é tudo que importa.